Confusão Nutricional: Porque Nos Dizem Hoje o Contrário do que Garantiam Ontem?
- Pedro Bizarro Santos
- 6 de out.
- 6 min de leitura
Atualizado: 12 de out.
Resumo
Vivemos tempos de confusão. Um dia dizem-nos que a carne faz mal, no outro que é essencial; hoje demonizam a gordura, amanhã descobrem que é vital ao cérebro.
A verdade é simples, mas foi encoberta por interesses e modas: as doenças modernas nascem da nossa dissociação da natureza.
Perdemos o contacto com a luz do sol, com o frio, com a terra e com os alimentos reais que moldaram a nossa biologia. Este artigo mostra como essa desconexão criou a confusão nutricional que vivemos — e como regressar à origem pode restaurar clareza, energia e saúde.
Porque Está Tudo Tão Confuso na Nutrição?
Se acompanha notícias de saúde e alimentação, provavelmente já sentiu esta frustração: ontem diziam-lhe que um alimento era saudável, hoje garantem o contrário. Um dia a gordura saturada é “veneno”, no outro afinal não tem relação direta com risco cardiovascular. Primeiro dizem que a carne vermelha causa cancro, depois revelam que é insubstituível em nutrientes essenciais. A dieta cetogénica? Ora aparece como a solução milagrosa para emagrecer, diabetes e doenças neurológicas, ora como uma ameaça para o coração e para o fígado.
Esta dança de contradições não acontece por acaso. A cada estudo que surge, em vez de clareza, instala-se mais confusão — e quem ganha com isso não é a sua saúde.
A Confusão Não É Inocente
Como refere um autor contemporâneo especializado em biologia evolutiva e saúde moderna, a ciência da saúde está impregnada de dogmas e interesses económicos — “quase tudo o que nos contaram sobre saúde é uma mentira de proporções épicas” (1).
Criar dúvida constante serve para manter a população dependente de especialistas, protocolos médicos e produtos industriais. Quando as pessoas acreditam que “ninguém sabe ao certo” o que é saudável, acabam por se render às recomendações oficiais ou aos produtos da moda — em vez de confiar no corpo (fisiologia, bioquímica e genética) e na lógica da natureza.
A nutrição moderna está cheia de exemplos dessa confusão planeada — talvez nenhum tão evidente quanto a dieta cetogénica.
Durante décadas, foi retratada como perigosa, “anti-natureza” ou até “uma ameaça ao coração”. No entanto, antes de existirem supermercados e hidratos de carbono disponíveis o ano inteiro, viver em cetose era parte normal da biologia humana.
Cetose é um estado natural em que o corpo usa gordura como principal fonte de energia em vez de hidratos de carbono.
Perceber o que realmente é a cetose é essencial para compreender como chegámos a este ponto de contradições.
A Cetogénica: Estado Natural ou “Dieta da Moda”?
O que raramente é dito é que a cetose não nasceu nos livros de dietas, mas sim na evolução humana. Durante milhões de anos, ciclos de jejum, escassez de hidratos e dependência de gordura e proteína animal fizeram parte da vida. A cetose era um estado fisiológico natural, não uma invenção recente do Instagram.
A ciência moderna confirma isso. Estudos mostram que, quando bem estruturada, a dieta cetogénica pode normalizar glicemia e insulina em pessoas com síndrome metabólica ou diabetes tipo 2 (2), melhorar a função mitocondrial e reduzir inflamação em doenças neurológicas como epilepsia ou Alzheimer (3), e favorecer perda de peso sustentada em ensaios clínicos de longo prazo (4).
Mas tudo depende da forma como é feita. Uma dieta cetogénica baseada em produtos processados — queijos industriais, carnes curadas de má qualidade e “snacks keto” — pode aumentar o risco inflamatório. Já uma abordagem funcional, baseada em carne e peixe de qualidade, ovos, vísceras, marisco, gorduras naturais (azeite, ghee, coco, abacate) e vegetais da época, pode ser profundamente terapêutica.
Não Há Dietas Boas ou Más — Há Contextos
Nenhuma dieta é universalmente boa ou má. O verdadeiro objetivo de uma dieta é nutrir.
Para nutrir, é preciso fornecer todos os componentes essenciais à vida. O corpo humano necessita, no mínimo, de 14 vitaminas, 15 minerais, 9 aminoácidos essenciais e 2 ácidos gordos essenciais — além de compostos bioativos que só existem em alimentos de origem animal (5–7).
14 Vitaminas Essenciais
Lipossolúveis: A (retinol), D, E, K
Hidrossolúveis: C, B1 (tiamina), B2 (riboflavina), B3 (niacina), B5 (ácido pantoténico), B6 (piridoxina), B7 (biotina), B9 (folato), B12 (cobalamina), colina.
Muitas destas vitaminas estão em formas ativas apenas em produtos de origem animal — por exemplo, o retinol (vitamina A ativa), a B12, e as formas bioativas de B2 e B6.
15 Minerais Essenciais
Cálcio, fósforo, magnésio, sódio, potássio, cloro, enxofre, ferro, zinco, cobre, manganês, iodo, selénio, cromo e molibdénio.
São indispensáveis à contração muscular, formação óssea, condução elétrica, síntese hormonal e defesa antioxidante. Vários deles, como ferro, zinco e selénio, têm biodisponibilidade muito menor em alimentos vegetais devido a antinutrientes como fitatos e oxalatos (8).
9 Aminoácidos Essenciais
Histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, treonina, triptofano e valina.
Estes são os blocos fundamentais das proteínas, enzimas, neurotransmissores e tecidos. As fontes animais fornecem o perfil completo e equilibrado de aminoácidos, com alta digestibilidade e sem fatores antinutricionais (9).
2 Ácidos Gordos Essenciais + 2 Indispensáveis
Essenciais: Ácido linoleico (Ω6) e ácido α-linolénico (Ω3)
Indispensáveis: Ácido araquidónico (AA) e EPA/DHA, que o corpo não produz em quantidade suficiente e são cruciais para a função cerebral, hormonal e imunitária (10,11).
As fontes vegetais contêm apenas precursores (ALA e LA), cuja conversão em EPA, DHA e AA é mínima. Por isso, peixe selvagem, marisco, ovos e carne de pasto são fundamentais para garantir níveis fisiológicos adequados.
A Diferença Está na Densidade Nutricional
Uma alimentação baseada apenas em plantas pode parecer equilibrada, mas é extremamente difícil obter todos estes nutrientes nas suas formas biodisponíveis.
Alimentos de origem animal concentram aquilo que o corpo realmente precisa em quantidades fisiológicas e formas assimiláveis. Carne, peixe, ovos e vísceras fornecem não só todos os aminoácidos e gorduras essenciais, mas também nutrientes exclusivos como taurina, carnosina, creatina, colina e CoQ10, indispensáveis para o metabolismo mitocondrial, a função muscular e o equilíbrio do sistema nervoso (12,13).
Não é a dieta que cura — é o contexto biológico, ambiental e humano onde ela se insere.
Quem Ganha com a Confusão?
Um ser humano metabolicamente flexível, capaz de usar gordura como combustível, precisa de menos comida, menos medicamentos e menos suplementos milagrosos. Isto ameaça diretamente duas indústrias gigantes: a alimentar e a farmacêutica.
Por isso, não faltam estudos contraditórios, revisões enviesadas e manchetes alarmistas. O objetivo não é esclarecer — é gerar paralisia pela dúvida.
Até o NIH: Quando a Ciência Oficial Também se Confunde
Nem mesmo instituições de referência estão imunes a este jogo. O próprio NIH (National Institutes of Health, EUA) foi alvo de relatórios críticos. Em 2018, a Office of Inspector General revelou que cerca de 1 bilião de dólares em bolsas de investigação tinham conflitos financeiros não avaliados de forma consistente (14).
Além disso, vários investigadores mantiveram relações pagas com empresas farmacêuticas, levantando dúvidas sobre a imparcialidade de estudos clínicos (15). O que deveria ser ciência transparente muitas vezes transforma-se em ciência orientada por interesses.
Conclusão: Sair da Confusão, Voltar à Natureza
A confusão que nos rodeia não é apenas sobre comida — é sobre como nos afastámos da natureza.
Enquanto acreditarmos que a saúde se encontra em rótulos, suplementos ou dietas da moda, continuaremos a ignorar o que sempre nos sustentou: luz, água, terra e alimento verdadeiro.
Voltar à clareza é voltar à origem. É perceber que o corpo não precisa de mais produtos — precisa de nutrientes, ritmos, descanso e ligação.
Quando compreendemos isto, deixamos de ser consumidores e voltamos a ser seres humanos em harmonia com o ambiente que nos criou.
E é nesse reencontro que a saúde acontece — não por imposição de uma dieta, mas por coerência com a nossa própria biologia.
O meu propósito
A minha missão é simples: ajudar as pessoas a reconectarem-se com o seu corpo, com a luz e com os alimentos verdadeiros.
Se este texto lhe despertou curiosidade ou vontade de mudar, encontrará no meu trabalho as ferramentas para transformar essa inspiração em saúde real, consciente e duradoura.
Bibliografia
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